Em 2020, os negociadores do Parlamento Europeu lutaram com êxito pelo maior pacote financeiro de sempre da União para fazer face às repercussões da crise da COVID-19 e financiar uma nova geração de programas da União Europeia (UE) para 2021-2027. Os eurodeputados conseguiram um aumento de 16 mil milhões de euros para programas emblemáticos como EU4Health, Horizonte Europa (investigação), InvestEU e Erasmus+ no orçamento de longo prazo da UE.
Para continuar a apoiar a Ucrânia e reforçar a autonomia industrial da UE, bem como para abordar a questão da migração, os eurodeputados insistiram na revisão intercalar e no aumento do orçamento de longo prazo, que a Comissão propôs em junho de 2023, em consonância com as exigências do Parlamento. O acordo provisório com os governos da UE foi votado em fevereiro deste ano. O acordo engloba o Mecanismo para a Ucrânia e a Plataforma de Tecnologias Estratégicas para a Europa (STEP).
O orçamento de longo prazo da UE e um instrumento de recuperação de 750 mil milhões de euros (mais de 800 mil milhões de euros a preços correntes) (ver também NextGenerationEU, Mecanismo de Recuperação e Resiliência, MRR) visam preparar melhor as sociedades europeias para as crises e impulsionar as transições digital e ecológica, com apoio especial para os jovens, PME, sistemas de salvamento e de saúde e à investigação. Em 2021, foram adotadas medidas adicionais de apoio às regiões e às populações vulneráveis (por exemplo, o Fundo para uma Transição Justa e o Fundo Social para o Clima). Estas medidas foram complementadas em 2023, para acelerar as ações destinadas a alcançar a neutralidade climática e a reduzir a dependência da energia russa (REPowerEU).
O Parlamento assegurou também um roteiro juridicamente vinculativo para a introdução de novos recursos próprios destinados a cobrir o reembolso dos empréstimos contraídos no âmbito do NextGenerationEU. Em novembro de 2023, os eurodeputados abriram caminho para que três novas fontes de receitas fossem diretamente integradas no orçamento da União Europeia, provenientes do Sistema de Comércio de Licenças de Emissão, do Mecanismo de Ajustamento Carbónico Fronteiriço e dos lucros das empresas.
Solidariedade assente em valores e objetivos partilhados
Enquanto autoridade responsável pela quitação, o Parlamento acompanha de perto as despesas orçamentais e os planos nacionais de recuperação financiados através do Mecanismo de Recuperação e Resiliência (MRR). Para que os Estados-Membros recebam financiamento da União, devem respeitar escrupulosamente os seus objetivos climáticos e digitais, bem como o Estado de direito e os valores fundamentais da UE. O Parlamento exerceu pressão constante sobre a Comissão para reter quaisquer pagamentos ao abrigo da «condicionalidade do Estado de direito», acordada com o Conselho em 2020, caso estes requisitos não sejam cumpridos. O Parlamento contestou o desbloqueio de 10,2 mil milhões de euros dos fundos de coesão da UE para a Hungria e recorreu (C-225/24) ao Tribunal Europeu de Justiça. Além disso, os eurodeputados conseguiram reforçar o controlo e a transparência do MRR, obrigando a que cada país da UE tenha de publicar os 100 maiores beneficiários deste financiamento.
Salários justos e transparência fiscal
Os eurodeputados negociaram com os Estados-Membros para estabelecer salários mínimos nacionais e garantir que homens e mulheres recebam um salário igual por trabalho igual em toda a UE. O Parlamento e o Conselho chegaram a acordo informal para uma nova lei destinada a promover a justiça social e a dignidade para os trabalhadores das plataformas digitais e a pôr fim às práticas abusivas dos prestadores de serviços. A diretiva que regula o trabalho nas plataformas digitais põe fim ao falso trabalho por conta própria e introduz as primeiras regras da UE sobre a utilização da inteligência artificial no local de trabalho.
Os eurodeputados apelam também aos Estados-Membros para que reforcem os regimes de rendimento mínimo e proíbam a exploração dos estagiários. Uma vez que as condições de trabalho nos setores culturais e criativos diferem consideravelmente entre os Estados-Membros, solicitaram à Comissão nova legislação sobre o estatuto social e as condições de trabalho dos artistas e de outros profissionais que trabalham na cultura. Num relatório separado, os eurodeputados procuram formas de assegurar aos músicos uma remuneração mais justa pelas plataformas de streaming.
A proibição total de produtos fabricados com trabalho forçado, dentro ou fora da UE, obrigará os fabricantes dessas mercadorias a retirar os seus produtos do mercado único da UE e a doá-los, reciclá-los ou destruí-los.
Pela primeira vez, o Parlamento adotou também requisitos de transparência para os serviços de aluguer de curta duração, a fim de proporcionar aos municípios uma melhor supervisão do seu mercado local de arrendamento de curta duração através de plataformas e proteger os viajantes de ofertas fraudulentas.
Além disso, uma tributação mais justa e o combate à corrupção e ao branqueamento de capitais continuam a ocupar um lugar de destaque na agenda do Parlamento. Para aplicar efetivamente o novo conjunto único de regras, os eurodeputados decidiram com os Estados-Membros estabelecer a Autoridade Europeia Contra o Branqueamento de Capitais em Frankfurt (Alemanha).
O Parlamento também adotou novas regras para as operações financeiras em criptomoedas, para que estas possam ser rastreadas da mesma forma que as transferências tradicionais de dinheiro. Os negociadores do Parlamento Europeu e do Conselho da UE chegaram ainda a acordo sobre nova legislação destinada a impulsionar o congelamento e a perda de fundos de origem criminosa e diminuir as violações das sanções da UE.
Apoio às indústrias da UE para impulsionar as transições digital e ecológica
Em fevereiro de 2023, os eurodeputados votaram a favor da criação de um novo instrumento de financiamento da UE para ancorar e relocalizar as capacidades de produção industrial na Europa. Um primeiro instrumento de financiamento (STEP) foi criado no âmbito da revisão do quadro financeiro plurianual (QFP). O Parlamento adotou, em abril de 2024, legislação para descarbonizar o aprovisionamento de gás e para reformar o mercado da eletricidade de modo a estabilizar os preços para os consumidores.
O Parlamento também aprovou as novas regras para assegurar a disponibilidade de matérias-primas críticas e adotou a «Lei Indústria de Impacto Zero» para impulsionar a economia tecnológica verde europeia. O "pacote competitividade" tem como propósito estimular a produção e a adoção de tecnologias energéticas limpas e ajudar as indústrias da UE a produzir empregos de elevada qualidade, bem como estimular o crescimento económico para alcançar os objetivos do Pacto Ecológico.
Com o objetivo de estimular o crescimento do comércio de retalho, os eurodeputados acordaram com os Estados-Membros regras para pagamentos imediatos, de modo a que as transferências de euros sejam feitas num período até 10 segundos e sem custos adicionais. Também chegaram a acordo sobre alterações para facilitar o acesso das PME aos mercados de capitais. Na última sessão plenária da 9.ª legislatura, o Parlamento aprovou várias medidas negociadas com os governos dos países da UE para aumentar a estabilidade financeira e económica na UE, incluindo um acordo sobre a governação económica da UE e o restabelecimento da disciplina orçamental a partir de 2024, tornando as regras mais claras, propícias ao investimento, mais adaptadas à situação de cada país e mais flexíveis.
Os eurodeputados também deram luz verde à revisão da política agrícola comum (PAC), a fim de aliviar os encargos administrativos para os agricultores da UE e garantir maior flexibilidade para cumprirem as condições de ecologização.