A reconstrução de um país em guerra não pode começar apenas quando cessarem as bombas de cair sobre as casas e as escolas e os jardins e os hospitais. É preciso, dizem os especialistas em reconstrução e cenários de pós-conflito, que aconteça, ou vá acontecendo, a cada brecha de calma, a cada cessar-fogo, por muito precário que possa parecer. Na Ucrânia, como em outros cenários de guerra, o mais importante é não fazer importar para o país em crise uma espécie de manual de instruções padronizado, um plano decidido longe das necessidades das pessoas, sem ouvir quem vai ter de viver nos espaços reconstruídos.
Isso vai acontecer, em maior ou menor grau, porque as exigências e as expectativas de quem financia uma reconstrução estão inscritas, em tinta invisível, nos cheques que governos e empresas privadas vão passar à Ucrânia. Alpaslan Özerdem, reitor do Instituto Superior Jimmy e Rosalynn Carter para a Paz e Resolução de Conflitos e professor de Estudos de Paz e Conflito na George Mason University, assume, em entrevista ao Expresso, que esse pode ser um dos maiores obstáculos à legitimidade que esta reconstrução precisa de ter junto de toda a população ucraniana - ou nunca terá sucesso. No entanto, um problema ainda maior pode estar a esconder-se nas prioridades do investimento, demasiado focadas na segurança, nos exércitos e nas polícias, descurando a saúde mental, a cultura, e as ligações interpessoais entre as comunidades que podem estar divididas, principalmente mais perto das linhas da frente.
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